O gol de pênalti pareceu perfeito à primeira vista, ainda mais sendo batido por ninguém menos que nossa maior estrela. Não foi a perfeição da batida forte à meia altura e no lado oposto ao do goleiro alemão e com direito a paradinha, que se tivesse pulado para o lado oposto teria, muito certamente, possibilidade de espalmar a bola para fora da rede. Reduzida a possibilidade de defesa à questão do lado para o qual o goleiro pularia, restariam exatos 50% à direita ou esquerda, separando a glória olímpica do ouro, ainda que a prata não fosse pouca coisa, mas para os pentacampeões, talvez. Cara ou coroa, a definir a alegria para muitos dos brasileiros apaixonados pelo esporte bretão, mas brasileiro por adoção, assim como o Deus brasileiro, reconhecido até pelo Papa.

Deus, sendo brasileiro, teria deixado seu time perder, naquele jogo fatídico logo de sete? Em 2014, Deus teria mostrado seu lado alemão?

A Terra do Evangelho, Coração do Mundo, habitada não apenas por Espíritos aperfeiçoados desejosos de um mundo de paz e prosperidade, mas principalmente por recalcitrantes, não tenazes, desobedientes, apenas que agora cansados de guerra, como Tereza Batista que sofrendo sem consciência do motivo para tal sofrimento tinha que pensar em como superar sua vida de dificuldades. A vida imita a arte, e tantos personagens retrataram a vida real, sendo retratados à perfeição e reconhecidos por quem os conheceu como sendo eles próprios que seria difícil saber quem é mais real, o personagem ou a pessoa que se viu no espelho da história.

Desconhecendo o passado a corrigir, apenas com o presente a dar as indicações que, difíceis de serem aceitas, sucedem-se na vida como corolários bizarros de uma justiça injusta, pois que se lembrando, apenas, do presente sofrido, difícil para a criatura desprovida ainda de um raciocínio abstrato afastar-se da concretude da dor física ou do sofrimento moral e deduzir daí uma lição para a vida ligando um passado certo, mas errado, e esquecido a um futuro incerto, mas certo, que vai ser conhecido ao ser construído com o presente desgosto.

Acontece que o fardo precisa ser suavizado para que possa ser conduzido, já que em dados momentos, como nas ladeiras acima, a impressão que fica é a de que não vai dar. E se apenas vislumbra o morro a subir, desaparece mesmo a força que ainda resta, sucumbindo o carregador. Uma declividade é muito bem vinda, podendo acelerar a velocidade no trajeto e animar o caminho.

Como povo, os seres estão sujeitos às leis de consequência que regem os indivíduos, as organizações sujeitas às mesmas reações, reunindo vários seres necessitados de reajustes juntos, como juntos construíram a necessidade da provação ou expiação.

Em momento de baixa autoestima sofrendo injunções das finanças deterioradas, violência no limite do suportável, perspectivas sombrias na política e tantos outros sofrimentos que não parecem depender de cada um para sua superação é muito bem vinda uma declividade, suavizando o percurso, trazendo alguma alegria, ainda que momentânea, a compensar o muito sofrimento vivido coletivamente, mas certamente construído com a participação de cada um, ainda que não na mesma ordem do ocorrido, mas na exata necessidade de cada qual dos participantes vivenciar.

E porque a misericórdia de Deus não tem limites, vêm medalhas no judô, na canoagem, na ginástica olímpica, e tantas outras, mas não muitas, evitando-se soberba, mas oferecendo além da alegria ao povo sofrido, lições de superação e motivação. Dosimetria exata, mostrando que somos capazes de fazer acontecer coisas boas e aprender com o passado o qual não conhecemos a não ser por suas consequências atuais. Ainda bem. Obrigado Senhor.

Euclides Lourenço